24 dezembro, 2009

:: carta ao amigo distante


Gabriel,

Você tem tempo que não vejo, tem tempo não almejo - deixei e o tempo prescreveu. Tempo segue nesta ou noutra cidade e o frio da idade substitui o calor e a amizade. Saiba amigo distante, que por mais que caminhemos errantes - nada vai e nada vem sem resquício. Você, meu relicário, época que carrego feito escapulário, à você desculpas à você desejo. Antes não sabia quem era, virava e era quem fossem. Perdi-me dentre identidades. Mas os olhos curiosos, o carinho e a verve vibram nas vísceras da amiga que há tempos não é mais. Sou quem sou e você é quem se tornou. Pena que o tempo anulou toda e qualquer cumplicidade. Pena amigo que nos encontramos em momentos tão díspares. Pena que tudo seguiu seu curso estranho. Sempre fomos estranhos, mas nunca...nunca erramos. Foi. E te amo sempre e para sempre.



20 dezembro, 2009

:: instruções para um modernoso

compre uma lomo. não há quem não a tenha, ridículo seria se você não possuisse uma. customize, faça ela ser única. única de muitas. edite fotos no seu mac book pro. enquanto mexe no seu ipod touch. bubble breaker no seu celular. camisetas manchadas, gola em v com tênis colorido, nike de preferência. se for sair a noite exiba seu osklen novo. barba mal feita, óculos modernoso, cores e sobriedade. whitest boy alive, por mais que não conheça - fated to pretend, já dizia mgmt queridinho da edição passada. ecobag, vintage comprada num brechó de berlin. saia para um café com amigos, muitos amigos, 590 amigos, um facebook inteiro deles. café com cigarros, já dizia a apologia de jarmusch. fotografe, fotografe muito. lubitel, colorsplash, hasselblad.

:: formol

Sim há tempos não escrevo. Dentro, o vazio em silêncio se esconde no canto, e a voz latente - gosto de pensar que esteja lá, quieta mas ainda assim lá. Latente nos os últimos anos. Inerte dentro de um aquário de formol. Viva e tão viva observando somente - por opção própria. Acredito em reclusão, em ano sabático em ouvir-se o nada. Acredito que é necessária a descida aos infernos para uma retomada gloriosa. Acredito nesse papo mitologia astrologia com cigarros e vinhos dentre poetas, escritores de dois livros produtores de festas baratas e cineastas de um filme só. Acredito que passa. Tempo passa e vida inglória fica silente no vazio no canto. Não se trata de amargura, mas de recomeço. De escolhas e chances. Desperdiçadas ou devoradas com a ferocidade de quem é apaixonado. Antes escrevia, agora reflito somente. Sim, há tempos não escrevo...