29 setembro, 2008
:: chopperia cinelândia
22 setembro, 2008
:: o mendigo
cegos................... riam.
13 setembro, 2008
:: rua da matriz
06 agosto, 2008
:: esboço
Estamos no inverno, pensou e rapidamente lembrou-se que quando olhou para cima, dentro do táxi, as folhas na árvore do canal estavam vermelhas. E o que isso quer dizer? Nunca foi boa com solstícios, datas, clima tempo, essas coisas. No inverno as folhas caem. Tinha isso como um fato integrante dentro do seu inconsciente coletivo altamente afetado pelo american way of life barra livros de infância importados vindos nas malas do tio brasileiro que morava em Nova Iorque. Não lia jornal. Não tinha muito tempo. Demorava horas se preparando – para tudo. As folhas vermelhas, o clima frio. Doíam os ossos da mão que quebrara pequena ainda. Enfim. Puxou o caderno. Resoluções...dois pontos. Empacou. Tentou trocar de caneta, catou a bic vermelha para combinar com a idéia de ter vermelhas folhas de maple tree amassadas dentro do caderno - secando. Resoluções...a palavra tinha um peso, era intensa por si só. pensou em como começar. de repente seria melhor simplesmente listar. listar que a comida do cachorro tinha que ser comprada que o xampu acabara e que os cigarros faziam mal para o seu fígado. toxinas - ele disse, na consulta. mas não eram estas as resoluções e sim as outras os planos maiores que não encontravam a peça final para make the bigger picture. e que frio que não passa apesar das folhas caírem. lembrou que a primavera vem entrando. e tudo sempre muda. acalmou-se, fechou o caderno e rasgou lentamente a folha escrita.
29 julho, 2008
:: desejos
Estava de tarde e, como toda tarde, ele fugia. Mal caia o sol e suas mãos agitavam-se, olhos remexiam de um lado para o outro e os poros suavam frio. Anoitecia… O nervosismo tomava conta do seu corpo assim como o veneno nocivo de um réptil colorido rapidamente atinge a corrente sangüínea. Observava o seu entorno obsessivamente de minuto em minuto, sentado em sua mesa. Sentia pelas narinas o viscoso perfume noturno adentrando pela janela aberta. Era assim toda noite. E toda noite ele sentia na pele, nos ossos e sobre os ombros o mesmo cansaço. Primeiro o crepúsculo; e passada as seis horas da tarde já ligava o abajur e fantasiava aquele ambiente diurno de filtro amarelo – tudo para recriar aquela segurança ilusória. A luminária compunha toda uma cena peculiarmente familiar. Ele fugia, sentado à mesa, com o ar de falsamente descontraído – fingia placidez, mas explodia em ansiedade. Por dentro um nervosismo se apossava e não respondia mais com coerência. Seus dedos seqüenciavam ruídos ao tamborilar sobre a madeira escura da mesa. Seus dedos insolentemente incessantes. A música há tempos não distraía e, o jazz tenro se tornara navalha perfurando os tímpanos dele. A noite não ia. Repugnava-lhe tomar café após as seis da tarde - ritual metódico que matinha antes do ocorrido. Todo pretume lhe causava náuseas. Dedos sem pausa. O ruído de sua neurose. Não escrevia mais depois das seis. Não se permitia sequer pensar no ato. Sentado à mesa só lembrava dele e, por culpa dele estava lá – sentado numa cadeira dura, neuroticamente neurastênico – ansioso por possuí-lo outra vez. Tocá-lo e senti-lo, explorando cada centímetro de seu corpo esquálido. E nada mais lhe vinha a mente senão a imagem dele e os seus próprios desejos reprimidos. Sentia o seu cheiro pelo ar, onde quer que fosse. Sonhava com os seus dedos ossudos entrelaçando o seu corpo magro e branco. Delírio onírico que encharcava sua tez de suor. Seu desejo pulsava. O relógio da parede girava e girava – u buraco negro que lhe carregava para longe mas nunca lhe tirava da sua cadeira e de seu devaneio. O corpo raquítico e branco aparecia e sumia-lhe da frente – só tocava-o com as pontas dos dedos...Girava o relógio e a noite seguia. E ao amanhecer da primeira luz do dia, o berro abafado pelo frio antes de ser acordado por um despertador em retardo – cigarro!
:: night down the road
:: ledo eqüilibrista
:: cão
Estava na sua casa. Eu e a sua casa vazia, a casa que parecia que ria. O cão debaixo da cama. Eu e o cão de vigia. E às cinco, como se ele tivesse olhado no relógio vermelho, ele, cão, se espremeu e saiu debaixo da cama. Veio sentar-se sob meu pé – como se buscasse proteção. Mas o que eu poderia fazer? Na casa estranha e quieta. Olhei-lhe nos olhos. Quis dizer que eu nada podia fazer. Estávamos no mesmo barco amigão – afaguei seu pêlo. Sua cabeça esquentava a sola do meu pé com meia branca e cinza. Ele olhou-me profundamente nos olhos. Retribuiu o olhar o cão – que era dela e não meu. Que tinha um olhar de velho sábio cansado da vida. Olhou profundamente bem dentro dos meus olhos e como se nada fosse me fitou e, piscou. Achei que tinha alguém dentro dele, mas aí ela chegou.
:: conversa no telefone
O não dito paira impreciso –
Inerte
Entre o meu pensar
E o teu agir.
Dois corpos finitos
Atônitos ansiosos aflitos,
Frente a frente –
Um abismo.
Arde a busca
Pulsa a ferida
O não dito paira impreciso,
:: testículo primeiro
Quantos cigarros fuma-se para voltar a ter inspiração? Pensei. Pois fuma-se, e muito. Ouve-se jazz, também. No silêncio da noite fria com a janela aberta tomando um álcool qualquer, vinho comumente. A boa e velha babaquice de escritor que escreve à noite com luz baixa e xícara de chá. Eu gosto de chá, confesso. Quão clichê isso pode ser. Escrever outra vez e deixar que transborde toda a nudez do que se é em palavras, registros escritos numa página virtual. Não registros do que se é, pensei. O relógio vermelho e seu barulho incessante dizendo que o tempo passou e que minha escrita enferrujada continua. Quantos cigarros fumarei nesta noite para escrever algum testículo primeiro que sirva para iniciar outra vez uma mania antiga?